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A Fuga da Terapia

A fuga da terapia


Mais comum do que se imagina, tem muitos pacientes que fogem da terapia, como gato foge de água.


E isso pode ocorrer da mais diversas formas, propositalmente ainda que sabendo que não seria o melhor caminho e ai inventando desculpas, justificando com dinheiro ou compromissos.


Como psicanalista, vejo a resistência não como um obstáculo a ser removido, mas como a trama mais crucial do nosso trabalho. E a maior manifestação dessa trama, muitas vezes, é o desejo súbito – ou gradual – de interromper o processo, de dar meia-volta no corredor da sua própria história.


Se você está lendo isto e sente aquele incômodo, aquela vontade de ligar ou mandar mensagem e dizer "Preciso dar um tempo", ou mesmo só parar de ir, este texto é para você. Não é um julgamento, mas um convite urgente a olhar para o que está se movendo dentro de você, justo agora.


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🧭 Os Motivos Ocultos do "Vou Parar"


A fuga da terapia raramente é sobre "falta de tempo", "questões financeiras" ou "a vida melhorou". No nível mais profundo, a interrupção da análise sinaliza que algo vital, algo nucleado em sua dor ou desejo, está prestes a emergir. É quando o inconsciente, sentindo-se encurralado pela luz da consciência, aciona o alarme de incêndio:


  1. O Peso da Revelação: O trabalho analítico nos leva à beira de verdades que passamos a vida inteira construindo muros para não ver. A fuga surge quando o material reprimido — a raiva escondida, a dor da rejeição primária, a fantasia insuportável — está quase à vista. É a mão que se levanta para fechar a cortina, segundos antes de o sol invadir o quarto.


  2. A Dor do Vínculo e a Transferência: A relação com o analista, para a psicanálise, é o palco onde se repetem seus dramas mais antigos, especialmente aqueles com figuras parentais. Quando você começa a sentir raiva do analista, a querer provar que ele está errado, ou sente que ele "não entende", é um sinal de que a transferência está no auge. Sair neste momento é uma repetição cruel: é sair deste vínculo, como talvez você tenha saído ou desejado sair de vínculos anteriores, para evitar a dor de reelaborar a relação ali, no presente.


  3. O Medo da Mudança: Parece paradoxal, mas abandonar a análise pode ser um medo terrível da cura ou da mudança. Nossa neurose, por mais dolorosa que seja, é um sistema conhecido. É a casa velha onde sabemos onde estão as rachaduras. A mudança é um território desconhecido e, para o psiquismo, o conhecido (mesmo que sofredor) é sempre mais seguro do que o desconhecido (mesmo que prometa alívio). Você está perto de ter que abandonar uma identidade construída na dor, e isso é assustador.


💔 O Luto da Sessão Cancelada


Se você está pensando em fugir, sinta do que está fugindo. O que estava na ponta da língua na última sessão? O que você evitou contar? Essa urgência de parar é um ato de resistência que, se analisado, pode se tornar o motor mais potente do seu processo.


Interromper a análise não é apenas um cancelamento na agenda; é um luto não elaborado sobre o que estava prestes a ser descoberto. É deixar a porta semiaberta, mas se recusar a entrar no cômodo. E o pior: a sua dor original não vai embora com o cancelamento. Ela apenas volta para a escuridão, mais forte e mais astuta, esperando a próxima oportunidade para se manifestar fora do setting terapêutico.


✨ O Convite: Retorne à Cadeira


Você não precisa fugir. O espaço analítico é o único lugar onde você pode analisar a própria fuga.


Se você parou, ou se está prestes a fazê-lo, agende uma sessão para dizer o que ocorre, ou ocorreu, expressar o desconforto, a raiva, a decepção, a insegurança, ou o alívio que sente. Diga o porque foi embora, ou pensa em ir.

  • Transforme o ato de fugir em um ato de análise.

A fuga é sempre a evidência de que a análise está funcionando. Não deixe que o medo da luz vença a sua coragem de finalmente ver quem você é.


Eu sei o quão difícil é voltar, mas eu também sei o quão essencial é continuar. A sua verdade está esperando por você.


Consultas 41996554152

 
 
 

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