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Catarse e a Psicanálise

Catarse e a Psicanálise. Essa liberação remodela a alma!


A palavra catarse, oriunda do grego kátharsis (purificação, limpeza), carrega consigo o peso milenar de um conceito que atravessa a filosofia e fundamentalmente, a Psicanálise. Longe de ser apenas um desabafo momentâneo, a catarse, sob a ótica psicanalítica, é um processo profundo de liberação de afetos reprimidos, um portal para a reestruturação da subjetividade.


🎭 Das Tragédias Gregas ao Divã


O termo ganhou notoriedade inicialmente com Aristóteles em sua Poética, referindo-se ao efeito purificador que a tragédia exercia sobre o espectador, através da experiência das paixões de terror e piedade. O que era um fenômeno estético-moral nas artes, encontrou um solo fértil e científico na clínica com o advento da Psicanálise.


No final do século XIX, Josef Breuer e Sigmund Freud formalizaram a Psicoterapia Catártica. Trabalhando com pacientes histéricas, notadamente o famoso caso de Anna O. (Bertha Pappenheim), eles observaram que a simples recordação e verbalização, em estado hipnótico, dos eventos traumáticos que haviam sido reprimidos (bloqueados na consciência), levava à diminuição e, por vezes, à remissão dos sintomas somáticos.


Citação: “A regra fundamental [da técnica catártica] é que a descarga afetiva, que foi impedida no momento do trauma, é realizada posteriormente.” – Sigmund Freud, em "Estudos sobre a Histeria" (1895).


O insight crucial foi que o afeto não expresso, o afeto 'estrangulado', permanecia no psiquismo como um corpo estranho, um "trauma psíquico" que se manifestava através de conversões (sintomas físicos).

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🌬️ O Salto da Catarse para a Elaboração


É fundamental destacar que a Psicanálise não se limitou à técnica catártica. Freud percebeu que a simples descarga emocional (a "limpeza" ou ab-reação) era apenas o primeiro passo, uma medida paliativa.


Os sintomas voltavam, pois o sentido e o lugar daquela experiência na estrutura psíquica do indivíduo não haviam sido devidamente compreendidos.


A catarse abriu o caminho para o que é central na Psicanálise: a elaboração.


A elaboração (Durcharbeiten) é o processo analítico que transcende o desabafo. É o trabalho lento e difícil de:

  1. Enfrentamento: Reconhecer a resistência que impede o acesso à memória ou ao afeto reprimido.

  2. Repetição: A repetição do padrão traumático na relação transferencial com o analista (a neurose de transferência).

  3. Integração: A capacidade de nomear, dar sentido e, finalmente, integrar a experiência traumática à história consciente do self.


Análise Profunda: A catarse é um evento explosivo de descarga de energia psíquica. A elaboração é um processo contínuo de ligação e significação dessa energia. A Psicanálise busca o segundo, usando o primeiro como um sinal de que o material inconsciente está pronto para emergir.


📜 A Ressignificação da História Pessoal


A catarse, na clínica contemporânea, pode ser vista como o momento em que a Resistência cede temporariamente, permitindo que a verdade emocional reprimida venha à tona. É um marco na análise, não o seu fim.


O verdadeiro propósito do processo analítico não é apenas sentir intensamente o passado, mas resignificá-lo. A catarse libera o afeto congelado; a elaboração, mediada pela fala na presença do analista (o Outro), permite que o sujeito se aproprie daquele pedaço de história que estava "desligado" de sua consciência, passando de mero paciente que sofre a agente de sua própria história.


Assim, o grito catártico, a lágrima torrencial no divã, é o ruído de uma porta que se abre, e não o ponto final da jornada. É o convite para o trabalho profundo de tecer novos significados e, em última instância, remodelar a alma pela palavra.


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